Por que é que as mulheres ganham menos que os homens?

Dicas | 18/07/2019 | Ivo Anjos

Ou a pergunta será antes: por que é que os homens ganham mais que as mulheres? O tema é sensível e atiça emoções. Preparados para a controvérsia? Vamos lá pensar sobre isto.


Senhoras e senhores…
Os resultados dos estudos são indiscutíveis: em todo o mundo, as mulheres ganham menos que os homens.

As “mais ou menos” boas notícias é que as diferenças têm vindo a diminuir lentamente ao longos dos anos. “Mais ou menos” porque o lentamente é mesmo muito vagaroso comparativamente ao desejado.

Em Portugal, os últimos dados do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social indicam que as mulheres ganham menos 16,7% que os homens. Em valores concretos, significa que as trabalhadoras portuguesas ganham menos 176€ mensais.

Tudo isto faz parte da importante e global discussão acerca do “Gender Pay Gap”, ou em português, “Fosso Salarial entre homens e mulheres”.

O que é o fosso salarial entre géneros?

É a diferença entre a média de remunerações dos homens e a média de remunerações das mulheres. É comum surgir como percentagem de forma a facilitar a comparação entre países:

Média dos salários das mulheres / Média dos salários dos homens = % Fosso Salarial

A nova lei da igualdade salarial

Portugal implementou uma nova lei que pretende acabar com este fosso.
A lei entrou em vigor a 21 de Fevereiro e obriga as empresas a justificarem as disparidades salariais entre géneros com base em critérios objetivos (antiguidade, qualificações, assiduidade, produtividade, avaliação de desempenho, etc).

Que razões há para os homens receberem mais?

A questão é muito complexa, envolvendo diversos pontos socioeconómicos e culturais. Consequentemente gera um confronto de diferentes visões sobre o tema.

Comecemos pelas razões apontadas por Laura Tyson, economista e professora americana, em conversa com a organização World Economic Forum.

Diferentes escolhas de profissões

Existem profissões que são maioritariamente desempenhadas por mulheres, e outras tantas, muito mais por homens. São os exemplos de enfermagem ou engenharia.
Sucede que as diferenças salariais variam entre setores e, por norma, os setores mais ocupados por mulheres apresentam remunerações inferiores.

Maternidade

Há uma forte influência da maternidade no salário das mulheres. Quando uma mulher é mãe, a sua carreira é prejudicada no que diz respeito a salários e oportunidades. Isto faz ainda mais sentido tendo em conta o ponto que se segue.

Part-time e trabalho não-remunerado

Lysa Tyson explica que as mulheres abdicam de percursos profissionais mais propensos a promoções ou passam a regimes part-time para se dedicarem mais aos filhos.

Cuidar dos filhos, da família e “tratar da casa” é trabalho não-remunerado, e bastante cansativo, diga-se de passagem. Este tipo de trabalho recai sobretudo na mulher, um esforço desproporcional em relação ao homem e que afeta a progressão profissional da mulher.

Discriminação e preconceito

A verdadeira guerra dos sexos começa aqui.
Os dados mostram que, mesmo excluindo os fatores anteriores, persiste uma diferença salarial em favorecimento dos homens. Ora, isto revela que a discriminação é um dos fatores a contribuir para o fosso salarial.

A zona cinzenta do debate

Em temas complexos como este, nem tudo é preto no branco.

Têm surgido algumas vozes a discordar com a ideia de que a discriminação e o sexismo são causas do fosso salarial. Vejamos em que se baseiam.

Este artigo no The Economist mostra que as diferenças salariais entre mulheres e homens tornam-se quase nulas ao compararem-se as remunerações de profissões ao mesmo nível, na mesma empresa e mesma função.
Concluindo que o problema não gira em torno da máxima “salário igual para trabalho igual”, mas antes de um desequilíbrio por atividade e tipo de empresa, com uma maior percentagem de homens em setores e organizações mais bem pagos.

E retornamos à questão da preferência feminina.
Um estudo norte-americano revelou um fenómeno muito curioso, o “paradoxo da igualdade de género”:

Quanto maior o índice de igualdade de género de um país, menor o número de mulheres em áreas STEM*.

*(sigla inglesa para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática)

Estas são áreas caraterísticas de atividades com remunerações elevadas.

A teoria dos investigadores é de que em sociedades onde os níveis de satisfação e segurança (nível de vida) são superiores, as pessoas tendem a sentir menos pressão económica nas suas escolhas profissionais e optam por fazer aquilo que gostam.

Sexismo? Desculpe, foi sem querer.

Afinal, por que recebem menos as mulheres?
Já vimos que o tema é complexo o suficiente para impedir uma resposta segura.

Resta saber se é justo culpabilizar os homens pela discrepância.

Digamos que o sexismo poderá estar presente em decisões e comportamentos inconscientes, que bloqueiam a progressão das mulheres a cargos de liderança, por exemplo.

São igualmente preconceitos culturais que poderão influenciar a própria escolha das mulheres em enveredar por setores conotados como femininos.

Para concluir, o importante é que as desigualdades estão à vista e há vontade política de resolvê-las.

Portanto, agora é começar a trabalhar na solução e tratar do problema à homem. Ops, foi sem querer.

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Ivo Anjos

Ivo Anjos é licenciado em Comunicação Empresarial com um percurso vincado em Marketing. Os seus interesses dividem-se entre o digital, o desporto e o sofá.

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